quinta-feira, março 29, 2007

Futebol, dinheiro, lealdade e importância


Gostava de explicar de uma vez por todas que este país fantástico está cheio de atrasados mentais que só querem é futebol.

É com incrível espanto que observo dois fenómenos aqui no meio “da gente”. Os jogadores de futebol são ricos. Os fãs de futebol são, por comparação, uns pobretanas.
O futebol vive dos pobres. Os pobres que são os que seguem, que pagam, que amam ver os ricos a jogar futebol.
Por um lado temos essa adulação por parte dos pobres. Quando os pobres amam os ricos é um acontecimento raro.

Por outro lado temos a situação da lealdade.
O futebol vive da lealdade dos fãs. Os fãs de futebol são por definição muito leais ao seu clube.
Os jogadores de futebol são extra-mega desleais. Por mais dinheiro, juram a pés juntos que desde nascença, e ao contrário do que sempre disseram até ao mais recente contrato, sempre foram do Estrela Vermelha de Viana do Estremunhado da Bielorússia.
Portanto os supra leais seguem, pagam, amam ver os mega-extra-desleais a jogar futebol.
É coisa única quando os lealíssimos idolatram os deslealíssimos.

Dizia há uns anos atrás o pintor Manuel Botelho que desde que os portugueses vão bebendo uns copos nada os incomoda. Mas a realidade é sem dúvida outra. Seja qual for a situação do país o importante é que os desleais ricos não parem de jogar futebol.

A importância dada a este jogo é sem dúvida uma transferência de satisfação da própria vida. A própria vida é vivida através dos acontecimentos que sofre o clube. Hoje ganhei. Hoje perdi. As emoções são transferidas para os fãs. Nunca um pobre leal ganha nada. Ganhe qualquer clube o que ganhar isso nunca é bom nem mau para o país, nem para a cidade, nem para o fã. No entanto há mudanças de grandes montanhas de dinheiro. Há jornais que todos os dias falam das somas movimentadas. Os fãs falam com agrado acerca do dinheiro que o desleal rico ganha todos os meses.

Se alguma vez qualquer vitória beneficiar qualquer cidadão português fã de futebol, isso só por si seria já uma notícia totalmente nova num jornal desportivo.

Hoje ganhámos! - dizem os fãs. Não, nunca vão ganhar nada. Nunca ganharam nada.

Daí que todos os broncos seguidores dos ricos e abastados jogadores de futebol estejam a desperdiçar a vida.
Abram os olhos, o futebol só serve para explorar o povo estúpido. Ainda vamos a tempo de nos apercebermos de que nenhum jogador, clube, jogo ou modalidade tem valor ou importância alguma.

sábado, março 17, 2007

Há quem


Há quem diga asneiras, quem cuspa no chão, quem diga que não.
Meço as palavras? Hei-de tentar sequer? De que vale tudo isto?
Marrão lancetado, encetei esta viagem há já mais tempo do que espaço. Não saio nem por nada do sítio. Não sem ser à força de cafeína.
Comida chinesa, tacos, hambúrgueres em sangue à frente da televisão por cabo, a beber a água suja do imperialismo ou outro canal qualquer que apareça.
Pernas amarelas, livros de fotografias, postais de pinturas, Cristo na cruz é propaganda diz-me o alemão todo zangado. Aposto que grunhia enquanto pensava e mais ainda quando escrevia. Nem quero imaginar nas cenas que havia de gritar quando se punha nos copos. Não que bebesse mas que tinha pancada lá isso...

Mortos, havia mortos na noite, encostados à parede, a pensarem na vida, no emprego, mas os cigarros eram muitos e as cervejas ainda mais.

Livros velhos, livros no chão com a capa cheia de lama, sujos de mijo e a cheirarem a merda. Tudo. Todos porcos. Trazia para casa o que encontrasse, bocados de pano para planos que fazia, malas velhas que me davam sempre a sensação única de segurança e o acolhimento de chegar a casa dos avós. Á noite percorria com os olhos as paredes com os graffitis, imagens verdes com pó, muito pó escuro por cima em que alguém escreveu com giz branco alguma coisa de muito romântico com erros ortográficos notáveis e verdadeiramente audaciosos que por pouco não faziam rir e precipitar sobre o Atlântico os satélites, as naves espaciais e os Boeings 747.

Uma motoreta espatifada, um boneco Lego caído e pisado. O relato do jogo do Belenenses à tarde e o velho pálido a ouvir e a escutar e a esperar sem pressa o amigo ou os amigos que espera ainda vivos.
Folheio pasmacento a revista de actualidades, é boa mas tem gajos de direita a falarem de coisas que não nasceram para perceber.

Feito no Japão. Feito em Taiwan? Onde raio será Taiwan? Deve ser perto de Chop Soy de porco. Se no Japão alguém virasse uma porcariazita da loja dos trezentos e lesse Made in Portugal, tinha um ataque cardíaco. A última importação de produção lusa feita pelo Japão foram umas espingardas que foram nas caravelas, a partir daí apareceu a Sony e acabou-se a conversa.