sábado, setembro 18, 2004

O lindo lindo Capuchinho Vermelho

Todos os dias ao chegar ao meu local de trabalho, logo pelas 10h da manhã, passava babado por uma personagem muito linda e muito poética. Uma senhora muito bem parecida, de meia idade, parada no meio da rua, com um saco de compras de cada lado e um rádio minúsculo ligado.
Esta personagem fascina-me por diversas razões... Esta senhora não se encontra parada na rua a pedir. Esta senhora fala, grita, gesticula como se estivesse a falar da injustiça de que foi vítima, a um senhor engenheiro imaginário. Continuamente ela fala com ele dizendo não haver direito para se passar uma certa e determinada situação que ela não chega nunca a dizer qual é!
Um pormenor curioso é que esta estranha personagem, faça chuva ou faça sol, está sem excepção em roupa interior, com um lindo lenço vermelho à cabeça e age como se se tratasse da situação mais natural do universo. Esta situação torna-se ainda mais curiosa quando se sabe que esta pessoa faz isto desde as 10 da matina até às 8h da noite, quase como se fosse um emprego. Para ajudar à bizarra festa, isto passa-se a quinze passos de uma esquadra... muitas vezes o seu discurso violento e de revolta é mesmo directamente gritado aos polícias que estão de sentinela e que parecem intrigados com o seu discurso, como se prestassem atenção a uma aula de história do sentinelamento.
As coisas são curiosas para os nossos lados. Diziam os saudosos Monty Python que todas as aldeias têm um maluquinho... será que nas cidades, esse número cresce proporcionalmente em relação ao número de habitantes? Pergunto-me se não estarão as estatísticas a mudar e se no futuro todas as aldeias não terão um cidadão dito normal... ou será que isso já acontece e que eles, os diferentes, os curiosos, as personagens que me tocam pela diferença é que são os cidadãos ditos normais...
Isto realmente está a ficar profundo, vou ter que voltar a escrever à revista Maria... serei normal?

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