sábado, novembro 15, 2003

O pedinte certo para começar o dia

Observo há algum tempo uma personagem muito conhecida de toda a gente que percorre as linhas de Metro – um jovem pedinte cego que se apresenta sempre muito descomposto e com ar sujo.
Não me interesso por este caro senhor por ele ser uma cara tão familiar para tanta gente, nem por este pedinte cego ser extremamente parecido com o faraó Amenófis IV (ou Akhenaton para os amigos mais próximos) com as suas estranhas feições, mas sim, e isto sim é de louvar, eu admiro-o por ele ter um autêntico dom e ouvido para a música.
É tão agradável ouvi-lo pedir com o som da sua harmónica, muito rápido, com ritmo, a fazer lembrar um Bob Dylan ligado à corrente, a fazer-se acompanhar pelo batuque da sua bengala de metal a bater no chão do metropolitano ao compasso acelerado da tresloucada melodia. É começar bem o dia, é um acreditar na lógica do caos.
Ele arranja umas intrincadas zurrapas musicais, que se misturam quase fora de tempo com o batuque. É como conseguir ver as linhas dos desenhos do boletim meteorológico no vento que sopra…é tão simples e maravilhoso como sentir o amor verdadeiro.
É a personagem perfeita para começar mais um dia no meio da hora de ponta.

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