domingo, março 25, 2018

Os droguitos


Ouvi alguém a chamar droguitos aos drogados. Dizia aquilo com pena, era quase carinhoso, tipo coitaditos do droguitos. Isto vindo de alguém que tinha passado os anos 80 e 90 num bairro com um grave problema de toxicodependência, achei muito curioso. A verdade é que a situação se tem vindo a alterar e agora felizmente esta mentalidade já é possível.

Sinto que aquilo sugere que já há distância suficiente para dar para ver que aqueles droguitos eram pessoas, pessoas que ajudavam a arrumar os carros com a ajuda de um jornal enrolado na mão.

sábado, março 24, 2018

O Sr dos gatos


Das traseiras da minha casa vejo todos os dias um senhor de chapéu de camionista, óculos escuros e o mesmo casaco impermeável, seja verão, outono ou inverno.

Todos os dias vai alimentar uma colónia de gatos vadios. Os gatos esperam-no ao molho ao pé do sítio da comida, outros esperam-no à porta e seguem-no desde que sai de casa. Durante muito tempo era todos os dias a mesma coisa. Dá a comida depois afasta-se e fica a vê-los ao longe. Mesmo que faça chuva ele fica ali em pé à chuva com o casaco impermeável vestido.

Mas desde há um tempo para cá o raio dos pombos começou a intrometer-se no assunto. O senhor deixava a comida para os gatos mas os pombos eram tantos que os gatos nem se aproximavam. O homenzinho fervia e esbracejava para afastar os pássaros, parecia filmado pelo Hitchcock, era divertido de ver.

Até que um dia o Sr dos gatos aparentemente fez as tréguas com os pombos e agora os pássaros passaram a esperar afastados, e quando chega, o senhor vai tirar os restos da comida dos gatos do dia anterior, leva o saquinho até aos pombos, despeja-lhe a comida e depois é que vai pôr a comida nos gatos.

Parece que pratico neighborspotting mas nem por isso.

sexta-feira, março 23, 2018

Street "art"

Um destes dias estava eu nas minhas funções oficiais de passeador de cão quando me deparei com uma tela de 70x90. Uma tela esticada numa estrutura de madeira, toda branca com letras pretas escritas a marcador. Seria street art??

As letras formavam palavras de incentivo, frases motivacionais. Mensagens de inspiração numa pintura deixada em cima duma caixa de electricidade no meio da rua. "Olha sempre para a frente" dizia a tela, e as senhoras velhinhas aparentemente levam a sério a mensagem e passavam com os sacos das compras ou do lixo e nem ligavam nenhuma. Durante um tempo aquela tela esteve a propiciar motivação na sala ou no quarto de alguém até que deixaram de fazer sentido, depois ficaram ali na rua um bocado e no dia seguinte alguém as tinha abatido.

Quando passei no dia seguinte algum transeunte sentiu a motivação de arrancar a tela deixando-a amarfanhada e levou a grade de madeira.

quinta-feira, março 22, 2018

O expresso da neve


Há qualquer coisa de realmente calmante na presença de um barulho de fundo calmo e distante. Por exemplo o som da máquina de lavar ou o barulho da chuva.

Desde que me comecei a usar videos de white noise para trabalhar que tenho encontrado verdadeiras pérolas. Vídeos longuíssimos de alguém a conduzir um carro em silêncio toda a noite no Texas numa noite chuvosa. Ou uma falésia onde batem as ondas durante um temporal.

De longe a coisa mais curiosa e especial com que me deparei é um vídeo em tempo real, de um comboio a viajar por uma paisagem nórdica super pitoresca. A linha segue ad eterno por entre quilómetros de árvores cobertas de neve. Chamo-lhe a meca dos meus vídeos de relaxamento e meditação.

Façam o favor de espreitar: https://youtu.be/qghQ5eKGcyE

quarta-feira, março 21, 2018

O grafitteiro pensador!


Há na minha rua uma data de grafittis absolutamente deliciosos.

De um dia pró outro surgiram umas frases estranhas a presentearem os transeúntes com chavões enigmáticos. Cada quarteirão da rua tem um rabisco diferente.

Um diz: "O povo não é um!", outro diz "Abril não morreu!".
Ainda outro tem a palavra homofobia cortada como se fosse proibida, como que a dizer que aqui está negada a presença da homofobia. Mas a minha favorita é um em que se lê: "Educanção". Assim mesmo com o N a mais. Tendo em conta o tipo de coisa que é, o conteúdo dos outros grafittis sugere-me que o erro é intencional e que a ironia está viva e de boa saúde nos miúdos das latas de tinta.

Há esperança! Há esperança!